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A Marcha do Sal

A Marcha do Sal foi a forma que Mohandas Karamchand Gandhi escolheu para dizer ao mundo que subjugar as pessoas é errado. O sal era artigo de primeira importância para os indianos, mas estes eram proibidos de extrair ou vender o próprio sal – deveriam comprá-lo dos ingleses, que tributavam a transação com um pesado imposto. Acompanhado de 78 seguidores iniciais e muitos outros que foram se juntando ao grupo, Gandhi saiu de seu ashram1em Ahmedabad no dia 12 de março de 1930 e andou por quatrocentos quilômetros até o vilarejo de Dandi, no litoral do oceano Índico.

O plano era ele mesmo produzir sal, pegando um punhado para si, infringir a lei e sofrer as consequências, como ser preso. A essa técnica de batalha Gandhi chamou de satyagraha, palavra criada por ele para representar algo que não existia, uma filosofia cuja tradução literal é “força da verdade”, que também pode ser compreendida como “força da alma”.

A jornada liderada por um único homem conquistou milhões e acidentalmente ocupou um lugar na história do século 20. Foi uma peregrinação para o coração das pessoas. Marcou a Índia em antes e depois. Em um mundo prestes a assistir à eclosão da Segunda Grande Guerra, a Marcha do Sal procurou trazer de volta valores essenciais à consciência da humanidade. Amor, não violência e liberdade eram suas mensagens.

Jawaharlal Nehru, o primeiro líder da Índia independente, escreveu para Gandhi logo após o término da Marcha: “Devo parabenizá-lo pela nova Índia que você criou com seu toque mágico. O que o futuro trará eu não sei, mas o passado fez a vida valer a pena. E nossa prosaica existência criou algo de grandeza épica.”

Em outubro de 2017, percorri a pé o caminho de Ahmedabad a Dandi ao longo de um mês. Minhas fotografias e anotações aqui reproduzidas tentam recontar essa fascinante história.

Érico Hiller