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Ameaçados | Lugares em risco no século 21

Na noite de 19 de outubro de 2011, eu navegava de volta de uma visita à ilha desabitada de Faridhoo, nas Maldivas. Estava deitado sobre o teto de um barco minúsculo, contemplando as estrelas. Ao meu redor, apenas o oceano Índico. Saffah, meu guia, o capitão da embarcação e um ajudante eram os únicos que me acompanhavam – todos em silêncio. Era impossível ouvir outro som que não o ratatá incessante do motor. Meus pensamentos iam longe. Lembrei-me de como a fotografia já me encantava no final da década de 1980, e de tudo que me levara até aquele instante mágico. Fui tomado por uma profunda sensação de paz, sem espaço para qualquer medo ou ansiedade. Devo ter dado um sorriso nessa hora. Lembrei que, ainda adolescente, a única coisa nobre que me cabia era acreditar que seria possível mudar o mundo. Podemos? Desde aquele tempo, tenho dedicado minha vida a testemunhar as mutações do mundo, tanto sociais quanto ambientais. Meu objetivo sempre foi fazer com que as fotos que produzo representem um inventário do nosso minguante planeta; daquilo que, infelizmente, pode um dia só existir na memória de poucos – ou pior, apenas numa fotografia esquecida no fundo de uma gaveta. Tomado por esse sentimento, entendi recentemente que havia reunido motivos suficientes para percorrer alguns lugares que correm risco de desaparecer – ou, pelo menos, serem profundamente alterados – neste século. Pesquisei na internet um termo genérico - “paraísos ameaçados” - e inúmeras listas surgiram. Elegi cinco lugares, cinco histórias que sintetizam a tensão ambiental do nosso tempo. Num mapa, apontei: o Ártico, derretendo em ritmo acelerado; as Maldivas, cada vez mais vulneráveis ao aumento do nível dos oceanos; o sul da Etiópia, perecendo diante dos novos tempos; a Mata Atlântica, no Brasil, pressionada pelo crescimento urbano e o monte Kilimanjaro, cujo gelo está desaparecendo num planeta mais quente. O que acontece nesses lugares é o que acontece com todos nós.